Água demais mata?
Exagerar na dose desse precioso líquido pode fazer mal ao nosso corpo
Normalmente, é comum escutarmos que “beber bastante água faz bem à saúde”. Acontece que o consumo exagerado deste precioso líquido pode ser prejudicial ao nosso corpo e, em casos extremos, levar à morte. Muitas pessoas questionam como pode essa substância – essencial à vida – acabar com ela. Mas de acordo com especialistas em química, ingerir muita água (H2O) pode causar uma intoxicação conhecida como hiponatremia.
Em grego, hypo significa pouco, em grau baixo. A hiponatremia é um transtorno de eletrólitos, alteração dos sais presentes no sangue onde a concentração de sódio no plasma sanguíneo é menor do que o normal. No caso, menor que 135 mmol/L (milimoles por litro).
De acordo com o professor titular de Nefrologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e coordenador da Unidade Docente-Assistencial de Nefrologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto, José Hermógenes Suassuna, o nível de sódio no sangue é chamado natremia. “Da mesma forma que quando colocamos água e sódio (sal de cozinha) dentro de um copo, a natremia pode variar de duas maneiras: adicionando mais ou menos água, ou mais ou menos sódio”, explica.
Equilíbrio razoável
Células humanas mantêm equilíbrio razoável de concentração do sódio. Mas quando ocorre um excesso de água no sangue e no líquido que banha os tecidos, esta é atraída para o interior das células numa tentativa de restabelecer a concentração necessária. A distribuição da água por todo o corpo contribui para ajustar concentração de sódio fora da célula. Essa condição é muito comum em pacientes hospitalizados, mas pode ocorrer raramente em crianças com menos de 6 meses de idade e em atletas, que perdem muita água e eletrólitos nas competições e torneios.
Suassuna conta que existem pessoas sentindo-se culpadas por não beber tanta água quanto o recomendado pelos especialistas. “A realidade, porém, é que não existe evidência médica de que isso seja necessário, nem para os rins e nem para a pele, exceto em poucas situações, como pessoas com cálculos renais e cistites, ou em indivíduos que perderam a capacidade de sentir sede. A perda da hidratação da pele tem muito mais a ver com a perda de uma proteína que transporta água para a pele (aquaporina) do que com a falta de água no organismo”, ressalta.
A hiponatremia aguda pode causar rompimento das células vermelhas do sangue e alterações musculares, como batimentos cardíacos irregulares e tremulações nas pálpebras. A principal e mais temida complicação da intoxicação por água é a inchação no cérebro, que pode somente fazer com que a pessoa afetada tenha um comportamento lembrando o de alguém alcoolizado. Porém, em casos mais graves, pode causar lesões cerebrais irreversíveis ou morte.
Sintomas típicos
Os sintomas típicos da hiponatremia incluem náusea, vômito, cefaleia e mal-estar. Com sua progressão pode haver confusão, reflexos diminuídos, convulsões e coma. O tratamento da hiponatremia geralmente depende da causa que a origina.
Se a pessoa apresenta poucos sintomas, pode ser necessário um tratamento como restrição de água. Caso haja perda de volume, a administração intravenosa de solução salina pode resolver a questão.
Para concluir, o professor lembra que, há alguns anos, um grande fisiologista publicou, em uma das mais conceituadas revistas médicas, o resultado de uma pesquisa onde não encontrou qualquer base para sustentar a recomendação de que pessoas saudáveis devam, em seu dia a dia, manter um padrão elevado de ingestão de água. “Obviamente, isso não quer dizer que não se deva garantir um aporte generoso de água em certas situações, como no exercício vigoroso e extenuante, seja profissional ou por lazer, principalmente quando o calor ambiente é muito intenso. A maioria das outras pessoas saudáveis, no entanto, pode confiar no alarme que por milhões de anos garantiu a nossa jornada até agora – a capacidade natural de sentir sede”, finaliza.
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